A entrevista aqui exposta foi feita com a Professora Doutora Deborah Hornblas, atualmente professora da FATEC-SP localizada no Bom Retiro e que nasceu no próprio bairro.
Primeiro perguntado sobre o local;
Nas décadas de 1930-70 o bairro era dividido entre judeus, italianos, gregos e lituanos. Os judeus eram quase todos comerciantes e ocupavam basicamente a parte alta do bairro, que fica entre as ruas José Paulino até a Rua Bandeirantes, lá ficavam as escolas judaicas como por exemplo o Lubavitch na atual rua Labuvitch e o Scholem Aleichem na Rua Três Rios, onde ficava além da Escola, o Teatro Taib (que teve papel importante contra a ditadura militar) e a Casa do Povo, que até hoje funciona no mesmo endereço. Havia também mercearias de produtos típicos (só restou uma na Rua Guarani, a Menorá), restaurantes, alguns ainda em atividade como o Shoshi Deli e a Burikitas, além das sinagogas. Os italianos e lituanos eram trabalhadores braçais e moravam na parte do baixo, que fica perto da marginal ao lado da Barra Funda, moravam em pequenas, os lituanos mais pobres que sobre alugavam os porões dos italianos. Alguns restaurantes de comida italiana como a pizzaria Morte Verde, que ainda permanece no bairro mesmo tendo aberto algumas filiais em outros bairros mais nobres da região central de São Paulo. Os gregos moravam espalhados pelo bairro e a atividade principal eram as lojas de móveis, um restaurante importante é o Acrópoles que fica na Rua da Graça e funciona até hoje.
Era uma babel em que várias línguas eram faladas em uma mistura quase sempre amistosa.
Na década de 80/90 os judeus e as outras etnias começaram a deixar o bairro, principalmente aqueles que galgaram sucesso econômico, chegaram então os coreanos, que passaram a ocupar os imóveis de restaurantes, mercearias e padarias típicas. Outra presença atual é a dos bolivianos, que são trabalhadores braçais nas oficinas de costura dos coreanos.
Em seguida ela analisa a importância que o bairro possui em sua concepção;
O Bom Retiro, para mim, é um reflexo da cidade de São Paulo. Desde o início de sua história de sua história apresentou a vocação de recepcionar os estrangeiros, que chegavam do Porto de Santos pelas estradas de ferro que estão no entorno do bairro. É um local para mim de memória afetiva e consigo ver beleza em suas ruas maltratadas.
E por fim a sua colocação sobre a história e memória dela mesma no bairro;
Minha mãe, filha de pai e mãe poloneses já nasceu no bairro em 1934, na Rua Prates, meu pai é alemão, mas quando chegou em São Paulo também foi morar no Bom Retiro. Eu nasci em 1961, na parte pobre do bairro, na rua Barra do Tibagi em um pequeno apartamento. Sou de família judia e naquela época a maioria dos judeus moravam nesse bairro. Nos mudamos em 1966, portanto eu ainda era uma criança pequena, fomos morar no Sumaré, essa mudança se deu porque meu pai alcançou sucesso profissional. Apesar de ter saído do bairro, continuei a frequentar seus espaços diariamente ainda por muitos anos, primeiramente por estudar lá até o fim do ensino fundamental no colégio Aleichem Scholem, e em segundo lugar porque a maioria dos meus familiares e amigos ainda residiam no bairro, além do fato de também frequentarmos seus restaurantes, sinagogas e etc. Depois que entrei na vida adulta poucas vezes voltei ao bairro, mas felizmente voltei a frequenta-lo a dar aulas na FATEC e confesso que adoro a ter voltado a frequentar suas ruas.
Deixamos aqui o nosso agradecimento a professora pela incrível contribuição para o nosso blog!
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